A diferença entre estar à vontade e à vontadinha.

 

Acabei de chegar de uma reunião para definir um evento que vai acontecer num dos espaços culturais mais conceituados de Lisboa. Além do director de marketing (meu cliente), estava presente a responsável pelos eventos e o director do événement que ali irá decorrer no mesmo dia.

 

Eu já conhecia a responsável pelos eventos de outras ocasiões em que trabalhámos e sabia que ela era uma pessoa, digamos, bastante descontraída, para não dizer meia descerebrada.

 

A reunião deu-se com o objectivo de definir o formato da acção que o meu cliente pensa organizar, ou melhor, que Miss Caco vai organizar para o meu seu cliente. Isto envolveu um ambiente de negociação, já que os interesses de ambas as partes estavam longe de ser coincidentes.

 

A certa altura, a dita responsável de eventos começou a descrever o que iria acontecer no local, sendo que a conversa deu-se mais ou menos nestes moldes: "Então... aqui à entrada vamos ter um ambiente bué da cool, uma cena com uma parede tipo 3D, bué da fixe, com um impacto brutal, muito à frente, onde podemos passar imagens muita loucas, que aquilo é bué da fininho e tem bué da resolução. O pessoal vai-se passar com a super motherfucker da led wall!".

 

Alto!!! Pára tudo! "Mas ela disse mesmo motherfucker?!? Eu ouvi bem??!", perguntou o meu Tico ao meu Teco. Ao que o Teco respondeu prontamente: "Sim, ouviste".

 

A conversa prosseguiu no mesmo tom, pontuada com dezenas de "bués", que eram sempre muito "fixes" e "brutais", com a capacidade de assegurarem cenas do mais "cool" que há e com a garantia absoluta de proporcionarem, no mínimo, a "loucura total". Ela não fazia por menos.

 

A certa altura, discutia-se a forma de delimitar o espaço aos nossos VIPS. Esta questão não estava a ser fácil de resolver porque as opiniões dividiam-se e cada um torcia para o seu lado, sendo que naturalmente Miss Caco defendia o seu cliente, que é para isso que lhe me pagam.

 

No meio daquele engonhanço, a protagonista sai-se com esta pérola: "Pronto, está decidido! Sendo assim, fazem-se as putas das pulseiras!".

 

Pára tudo novamente. "Ela disse PUTAS?!?", perguntou outra vez o Tico. "Check.", responde o meu Teco.

 

Depois disto, eu já estava a achar que pior que aquilo dificilmente iria ficar. E, de facto, não ficou. Acabámos por conseguir fazer o evento como queríamos e eu a sair de lá a pensar que posso ter  mais 15 anos de profissão no lombo, marcar reuniões no Cais da Ribeira de Gaia, no Bronx, ou mesmo no Mercado do Bolhão - caso seja  reabilitado - que dificilmente terei uma motherfucker de outra reunião com este calibre.