sexta-feira, 30 de maio de 2014

O meu melhor presente.




Se ainda não viram este vídeo, sentem-se e preparem uns pacotes jeitosos de lenços porque certamente vão precisar. A Electrolux teve a brilhante ideia de criar esta história intitulada "O melhor presente" para chegar ao fundo do coração dos clientes, sendo que, no que toca a Miss Caco, estão de parabéns porque foi certinho na mouche.

Verdade seja dita, não vou a correr comprar um frigorífico (até porque acabei de fazer essa aquisição, como podem constatar uns posts mais abaixo), mas certamente fiquei a achar que a Electrolux é uma marca fofinha, merecedora do nosso carinho.

Pois, para quem ainda não viu, este vídeo é sobre um momento marcante na vida de qualquer jovem: a saída da casa dos pais. No caso de Miss Caco, o acontecimento deu-se aos 17 anos quando foi estudar para uma universidade numa cidade próxima. A minha história não envolveu marmitas, nem aviões (espera... sim, há uma altura que também mete aviões) e a protagonista nem sequer é a mãe.

O papel principal cabe ao pai de Miss Caco, um senhor reservado, pouco expansivo no que toca a sentimentos, apesar de, no fundo, ser um homem muito sensível.

O vídeo fez-me  fazer um rewind na história da minha vida e viajar até ao primeiro dia de aulas no ciclo, depois de ter mudado de cidade, acompanhada por ele. Eu levava uma roupa nova, uma espécie de camisola de alças que se punha em cima de uma camisola dita "normal", com umas letras estampadas que formavam a palavra "breakdance" e tinha umas luvas pretas, sem dedos. Aquilo pareceu-me suficientemente cool para me ajudar a esconder a timidez e os receios que aquela mudança me causou.

Pai Caco levou-me até à porta da escola, sempre em silêncio (eu disse que é um homem reservado) e despediu-se com um: "Até logo. Cá estarei para te vir buscar". E assim foi. Ao fim do dia, lá estava ele, colado às grades da escola para me levar para casa.

Não me lembro se perguntou como correu o dia, mas recordo bem o sentimento de segurança a que sempre me habituou, fosse nas noites em que estava doente e ele se sentava na borda da cama com a embalagem azul de Vick Vaporub; fosse durante os momentos que antecediam as injeções de penicilina ao sábado de manhã (sim, era ele que as administrava porque tinha sido enfermeiro na tropa e eu passei a infância a penar com amigdalites); ou quando, antes do teste de condução, me punha ao volante do seu carro e ficava, pacientemente, a dar instruções no banco ao lado, numa altura em que eu tinha  pesadelos só de  pensar no ponto de embraiagem.

Aos 17 anos entrei na faculdade e fui estudar para outra cidade. Todos os domingos, ao fim do dia, era ele que fazia 100 quilómetros para me levar até ao apartamento que partilhava com colegas. As viagens seriam certamente com muito silêncio à mistura, mas eu sabia que as fazia de bom grado.

No dia 8 de Fevereiro de 1999, Miss Caco, acabadinha de completar 25 anos,  foi viver para Paris, ao abrigo de uma experiência profissional que me fez ficar um ano nessa cidade. Pai Caco acompanhou-me ao aeroporto e levou-me as malas até ao check-in. Não me lembro se dessa vez também levava roupa nova, mas sei que a ansiedade e os nervos da mudança de vida fizeram-me chorar durante toda a viagem.

Recordo que o bilhete era de ida e volta, com data marcada para daí a um mês (era mais barato do que comprar só ida) e quando me despedi, disse-lhe: "Não te preocupes que se a coisa correr mal, daqui a 30 dias estou cá" e sorri para disfarçar os nervos que me consumiam.

Nesse ano, o meu pai não estava lá para me ir buscar, mas falava comigo ao telefone quase todos os dias. Foi, aliás, esta experiência de vida que me fez aproximar dele, conhecê-lo melhor, estando eu já numa fase adulta.

Alguns anos depois, foi a ele que, entre soluços e numa choradeira sem fim, desabafei um arrebatador desgosto de amor e foi dele que ouvi o habitual lugar comum de que "a vida continua e que o tempo apaga as mágoas". Assim foi. A vida de facto continuou e o tempo fez o seu trabalho.

Hoje vivo noutra cidade, desta vez a 300 quilómetros de distância, e também falamos com frequência. Não me prepara marmitas, nem me espera à saída do trabalho, não me faz surpresas porque vão contra a natureza de um homem que, ao contrário da filha, tem estados de espírito muito pouco flutuantes, mas sei que só nele é que consigo ir buscar aquele sentimento de segurança que me acompanha desde que me lembro de existir.

Sei que a ele posso sempre recorrer. Sei que com ele posso sempre contar. Não me lembro de algum dia não me ter atendido o telefone ao primeiro ou segundo toque. É ele que me avisa da inspeção do carro, dos prazos para o IRS, está em cima da próxima mudança de óleo ou se já paguei o IMI. Ainda que a nossa relação não tenha grandes surpresas, é, naturalmente, das uniões mais sólidas e puras que tenho na vida.

É certo que um dia vou sentir a falta deste amor incondicional e previsível, deste apoio que está sempre ali ao fim do dia, ou até do bolo de iogurte que, apesar de não ser o meu preferido, está religiosamente à minha espera quando o visito nas noites de sexta-feira. 

Vendo bem, Electrolux, se calhar não há presente melhor do que este.


Miss Caco é a menina à esquerda, com o vestido da moda. Pai Caco ao centro e irmã Caco à direita.

7 comentários:

  1. Já li, já vi...já fui à casa de banhoaporque borrei a maquiagem toda...já funguei tudo e agora voltei para te dizer que te vou "levar" o video para levar lá para casa....quero dedicá-lo às minhas meninas este fim de semana:) Obrigada Miss Caco...sei que me percebes...:)

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  2. Leva, Suricate, leva! :-). E não te esqueças de levar mais lenços! :-)

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  3. Ainda no início e já a pegar nos lenços... Ai que saudadinhas da minha mãezinha.. mas daqui a uma semana já a vou encher de beijinhos!!

    Que post mais bonito!

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  4. Fogo.... deixaste-me com umas lágrima a querer saltar.... ainda nem vi o vídeo mas este teu texto..... ai ai ai... lindo!
    Eu não vivi um ano em Paris, mas fiz erasmus em Amiens, no norte de França e lá fiquei uns 4 meses, passei vários fins de semana em Paris, cidade que amo profundamente!
    Pronto vou até ao wc chorar baba e ranho, porque aqui na mesa de trabalho à frente de toda a gente é capaz de não ser bonito....

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  5. Adorei o texto! tão bonito, tão verdadeiro, tão sentido...
    Estou aqui de lágrima no olho, e ainda não vi o vídeo!
    Um beijo enorme para a Miss Caco e para o seu Pai*

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  6. Eu avisei para irem buscar lenços :-).

    Raquel, obrigada pelos beijinhos! :-)

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  7. É mesmo bom ter o nosso porto de abrigo, mesmo que não seja todos os dias como eu...Mas saber que o pensamento dele está sempre em nós.
    Infelizmente tenho o meu pai, que tb é bastante reservado no que toca a sentimentos no hospital. Raios para esta doença...Mas ele está sempre no meu coração e eu no dele :-) Como digo à minha filha..Ela está sempre no coração da mamã...Elos tão bonitos. Os melhores do mundo! Cliché, mas verdade. Beijinhos Miss Caco!!!

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Deita cá para fora!