quarta-feira, 4 de outubro de 2017

4 anos, 8 meses e 3 dias depois, a pergunta finalmente chegou.


E chegou da forma mais inusitada de todas.

Foi ontem à noite, enquanto o chamava para lavar os dentes e ele, tal como faz todos os dias com o único objectivo de ganhar tempo, diz: "Mas mamã, eu ainda quero comer quauquer coija"

Eu: "Pauzinhos"?

Ele: "Xim, paujinhos" 

Vou à despensa buscar grissinos. Percebo que são os últimos. Amanhã tenho de ir ao Pingo Doce na hora de almoço. Isto sou eu a pensar. Quer dizer, (isto sou eu a pensar).

Dou-lhe os grissinos e sigo para a casa de banho, enquanto ele fica na sala "a acabar de ver os bonecos e a comer os paujinhos", à mesma velocidade que uma tartaruga faz o percurso Gondarém/São Mamede de Infesta, ao pé-coxinho, em dia de chuva, com piso escorregadio.

Dou-lhe 5 minutos até começar a chamar por ele, já da casa de banho, e a ameaçar que amanhã não se vai conseguir levantar e blá, blá, blá, todos aqueles argumentos que as mães usavam connosco e que nós estamos a replicar, porém, com a certezinha absoluta de que não servem para rigorosamente nada, mas antes isso do que agarrá-lo pelos cabelos e enfiar-lhe a escova pela boca a dentro. 

Até porque é capaz de ser contraproducente. 

Minutos depois, entra na casa de banho. Fica parado à porta e diz:

- "Mamã, porque não temos um filhinho?"

(Sinto 5 artérias coronárias a romper ao mesmo tempo)

Eu: "Um filhinho, como?"

Ele: "Sim, um filhinho... um bebé na barriga".

Sai repentinamente, talvez para fazer algo urgente, como, por exemplo, garantir que deixou o carro dos bombeiros dentro da garagem, não vá chover durante a noite.

Entra de novo, minutos depois. Eu sem pinga de sangue, a tentar articular a resposta que lhe vou dar no momento que voltar à carga. 

Opto pela Estratégia de Ataque, pela Estratégia "Vai perguntar ao teu pai" ou pela Estratégia Política?

Escolhi a última: engonhar e disfarçar. E, no limite, mentir. Se tiver mesmo de ser. Se não tiver, mentir na mesma.

Eu: "Vá, vamos lá lavar os dentinhos... olha que giro que é o crocodilo da tua escova!!".

Dou-lhe a escova já com a pasta, ele mete-a na boca e começa a esfregar. Pára segundos depois.

- "Mamã..."

(Medo)

Eu: "Sim..." (com três nós de marinheiro enfiados na traqueia e uma broa de Avintes) 

- "Esta pasta de dentes é delichioja".

1 comentário:

Deita cá para fora!