Na repartição de Finanças de Alcochete trabalha uma funcionária que pensa que tem, como se costuma dizer, o rei na barriga. É loira, estatura média, bem disfarçada graças aos tacões e, apesar dos seus cerca de 50 anos, esforça-se por acompanhar as tendências de moda, seguidas pelas miúdas na casa dos 20.
Quando preciso tratar de algum assunto, costumo ir para lá um pouco antes das nove e vejo-a sempre chegar muito perfumada, de nariz no ar, como quem diz: podem estender o tapete que chegou sua realeza. Por oposição, o espaço onde trabalha cheira a mofo, está entupido de dossiers que parecem não ser abertos há décadas, tem cadeiras de plástico, o ar condicionado não funciona e as persianas estão frequentemente avariadas. Raras foram as vezes que não a vi falar com velhinhos ou com gente, digamos, menos letrada, num tom altivo e arrogante.
Esta repartição é tão pequena que a zona de espera se confunde com a zona de atendimento, de maneiras que nós estamos ali sentados nas cadeiras de plástico, a aguardar que gritem o número da nossa senha e, no entretanto, vamos ficando a saber as dívidas do senhor Manuel da Farmácia à Segurança Social e que o neto da D. Alzira está emigrado e esqueceu-se de pagar o IMI.
Enquanto espero, vou prestando atenção ao tratamento de "Sua Realeza" cujo discurso vai sempre no sentido de: "Mas você não viu que a senha verde não é para o IRS?", "Quem é que o mandou cá vir com este papel?", "Então você não sabe que o prazo de entrega já expirou?", "Mas quem é que lhe disse que estava isento só porque é funcionário público?", enquanto vejo os interlocutores a encolherem-se, caladinhos, e a desculparem-se, não vá ela lembrar-se de os mandar embora sem resolverem o problema.
Posto isto, caro Poiares Maduro, quando decidirem quais as repartições de Finanças que vão encerrar, não se esqueçam da de Alcochete. E quando esse dia chegar, avisem-me por favor, só para ir até lá, tirar a senha amarela, esperar nas cadeiras de plástico, e quando chegar a minha vez, poder dizer: "Mas quem é que lhe disse que estava isenta só porque é funcionária pública?".
Quando fecharem as repartições de finanças, não são os maus trabalhadores que vão sair... Esses têm lugar garantido!
ResponderEliminarHá muito funcionário publico que merece o destino que vai ter (que já devia ter tido há muuuuito!). Só tenho pena que juntamente com esses o justo vá pagar pelo pecador.
ResponderEliminarTanta gente a querer trabalhar...
ResponderEliminarO que contaste fez-me lembrar o que passei há dois dias atrás na Conservatória do Registo Predial aqui da terra. Deve ser tudo dentro do mesmo género.
ResponderEliminarEnfim eu tenho um certa alergia a pessoas com excesso de mania principalmente quando tratam os outros com arrogância dá-me logo vontade de as "chamar" à terra
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