Esta Senhora é a mulher mais corajosa que conheço e que tenho a sorte de ser minha Tia.
A minha Tia vive numa aldeia no norte do país e foi cuidadora grande parte da vida. Tomou conta de um tio até este falecer, cuidou da minha avó durante os vários anos que esteve acamada, cuidou do meu avô, até este partir com a bonita idade de 101 anos, cuidou do marido e, agora, depois de tantos anos a cuidar dos outros, vive sozinha e cuida de si.
No meio de tudo isto, Deus deve ter-se distraído por momentos, e permitiu que perdesse um filho com vinte e poucos anos. Não imagino o que seja perder tanta gente importante na nossa vida e continuar de pé, a ter força para se levantar todos os dias, para fazer refeições - ainda que só para ela -, para tratar da casa, para continuar a viver com garra e determinação num espaço que já partilhou com tanta gente e que agora está praticamente vazio. Agora é ela, a gata Kikinha e o cão Boneco.
A minha tia é uma mulher corajosa, muito trabalhadora, cheia de vida, um exemplo notável de resiliência, em quem eu penso sempre que me vou abaixo.
Tratou de mim quando eu era criança, numa altura em que os meus pais tiveram de ficar ausentes, noutro país. Lembro-me de que, no inverno, me aquecia as botas no fogão a lenha, comigo sentada ao seu colo, e de ir com ela ao leite pela rua da aldeia.
A minha tia tem 82 anos. Acorda muito cedo e entretém-se a tratar da casa e com tarefas no campo. Sabe fazer alheiras, broa, rissóis, bola de carne, plantar tomates, tirar o leite às vacas, sabe as alturas do ano em que se fazem sementeiras, sabe vindimar, sabe costurar, sabe rachar lenha, sabe podar, sabe tratar de animais, sabe como se arrancam as folhas das couves, e, sobretudo, sabe fintar a dor. E eu gostava muito de saber fintar a dor tão bem como ela.
Quando lhe ligo, diz-me que a aldeia está cada vez mais deserta, que tem dias que quase não fala com ninguém. Costuma ir passar o serão a casa da senhora Aurora, uma vizinha. Vêem novelas e falam sobre as coisas da vida.
A minha tia tem uma filha e uns netos maravilhosos que vivem perto e a visitam com imensa frequência. Ontem à tarde, a minha prima foi vê-la. Tirou-lhe esta foto e eu só posso encher-me de orgulho porque representa verdadeiramente o que a minha tia é: uma força da natureza.
A minha tia chama-se Fernandina e é a Mulher Mais Corajosa do Mundo.
Pelo menos do meu.
18 Outubro 2018 - A minha tia, sem filtros e com o cão Boneco.
Que homenagem bonita a uma mulher que deve ser mesmo especial! :)
ResponderEliminarNuma altura em que se fala tanto mal de todos e mais alguém é uma lufada de ar fresco ver um texto positivo sobre alguém que se ama. Beijinhos e bom fim de semana!
Obrigada, Carla. Sim, é mesmo uma mulher única :-).
EliminarQue lindo :) e que bom ter pessoas assim na nossa vida :)
ResponderEliminarÉ bem verdade, neste ponto sou uma privilegiada. A minha família é bastante pequena, mas muito boa.
EliminarSão pessoas assim que nos dão verdadeiras lições de vida! :-) Um exemplo e um orgulho a tua tia.
ResponderEliminarSim, é mesmo um exemplo de vida. Obrigada! Beijinhos
EliminarVeio uma lágrima ao canto do olho, e nem conheço (ou melhor, nem conhecia...) a tua tia!
ResponderEliminarBeijinhos!! :-)
EliminarÉ um orgulho ter família assim, parabéns à tua tia por ser uma mulher extraordinária. beijinhos
ResponderEliminarObrigada, Olívia! Beijinhos
EliminarA Fernandina é uma muher especial de sorriso doce que não faz transparecer o que já sofreu. É uma mulher de armas. Bj 💕 Paulina
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