A primeira vez que fui a Nova Iorque foi por esta altura do ano, em 2001. A esta distância, consigo rir-me do episódio que vos vou contar, mas a desgraça que me aconteceu na altura, por um triz não me estragava a viagem. Lembrei-me dela agora, nem sei bem porquê, e decidi partilhar. Afinal, os erros dos outros também servem para nos ensinar qualquer coisa, não é o que dizem?
Miss Caco tratou do alojamento. Cinco minutos a pé de Times Square. Uns apartamentos onde ficavam todos os funcionários da TAP. Toda a gente conhecia. Era um brasileiro que os alugava e ficavam mesmo por cima do seu restaurante, num sítio que, a nível de localização, era absolutamente fantástico e o preço um verdadeiro achado. Não sei se ainda existe, mas naquele tempo meio mundo ficava lá.
Bom, Miss Caco viajou na TAP com o companheiro. O voo atrasou algumas horas e por isso, a previsão de chegada passou para as 22h30. Companheiro Caco alertou-a para a necessidade de avisar o brasileiro sobre a alteração de horários. Miss Caco assobiou para o ar e achou que não era preciso porque certamente àquela hora o restaurante ainda estava aberto.
Mentira. Não estava. 22h30, Dezembro, um frio de rachar, noite cerrada, dois pitufos carregados de malas no coração de Nova Iorque, sem ter onde pernoitar. Ligo ao brasuca. Não atende. Bato à porta do restaurante. Tudo fechado.
Ok, é oficial. Estamos fodidos. Há que encontrar uma alternativa. Começámos a andar com as malas atrás e a entrar em todos os hotéis que apareciam. Tudo full. Nada a fazer. Companheiro Caco a deitar faíscas. Nunca um "eu bem te avisei" foi tão bem aplicado. Miss Caco do tamanho de um rato. Companheiro Caco a espumar. Voltava ao ataque. "É o que dá o puto do facilitanço!!!" Miss Caco só queria um buraco. Para se enfiar.
Silêncio outra vez. Daqueles silêncios dilacerantes. Éramos nós, o barulho da cidade e das rodas das malas que teimavam em ficar presas nos sacos de lixo (Deus meu, tantos sacos de lixo!). A saga da procura de hotel não tinha fim. As horas a passarem e as ruas a ficarem cada vez mais desertas. Miss Caco a panicar. Companheiro Caco a espumar.
Grupos de gente duvidosa a pedir-nos tabaco. Ou lume. Companheiro Caco dava. E eu ficava em transe a achar que era uma manobra para nos levarem as malas ou tirarem um rim. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Finalmente um hotel. Qual oásis no meio do deserto. O primeiro com um quarto livre. Muito bom aspecto. Pedi a companheiro Caco para perguntar o valor. Tinha medo de ouvir. Como se esta pergunta tivesse alguma razão de ser. Fosse quanto fosse, estávamos de mão atadas se não queríamos a passar a noite num cano de esgoto. Provavelmente sem um rim.
- Setenta contos. "Setenta contos????!!???" (sim, na altura ainda eram contos) Trezentos e cinquenta euros para quem não sabe o que isso é.
Há alternativa? Não. Subimos ao quarto. Ninguém abria a boca. Miss Caco continuava a panicar. Agora o drama era outro. "Então e se o brasuca cancelou a reserva? E se amanhã chegamos lá e não há apartamento livre? E se isto volta a acontecer? Nesta altura do ano está tudo cheio... We´re fucked".
Escusado será dizer que passei a noite a dar voltas na cama, a ouvir o barulhos dos carros a passar na rua em frente e a contar os minutos, a olhar obcecadamente para o relógio. Ansiosa que o dia nascesse. Companheiro Caco dormia. Miss Caco panicava.
Sete horas da manhã. Ok, vamos ver. Não há pequeno-almoço para ninguém. Agarramos nas malas, eu de directa, com olheiras até ao chão e o coração a mil. Atravessamos dois ou três quarteirões até à rua do brasileiro. Ninguém abria a boca.
O apartamento estava à nossa espera. Subimos com as malas outra vez. Trombas de companheiro Caco ao rubro. Miss Caco lixada da vida por ter de lhe dar razão. Desfazer as malas. Tirar a roupa, os sapatos, o guia, a máquina fotográfica, os telemóveis, arrumar cenas, carregar bateria.
Miss Caco (encolhida) : "Onde guardaste o adaptador?"
Companheiro Caco (inchado que nem um perú): "Que adaptador?!?"
Miss Caco (menos encolhida): "Para carregar a bateria, carago! Aquele que comprei de propósito... Não te disse que as fichas aqui são diferentes???!?"
Companheiro Caco (encolhido): "Humm... Esqueci...".
Miss Caco (inchada que nem um perú): "Pois... É o que dá o puto do facilitanço!!!"
Ahahahaahah! :)
ResponderEliminarMas o teu facilitanço foi mais caro! :p
Coisa pouca, Inspired :-)
EliminarMuito bom! o puto do facilitanço é tramado mesmo!
ResponderEliminarNunca fiar, Alexandra :-)
EliminarConvenhamos que o facilitanço dele foi menos grave que o teu ahahah
ResponderEliminarLigeiramente, Laissez Faire :-).
EliminarAi Miss Caco, eu se fosse o teu companheiro nem sei o que te fazia... ;)
ResponderEliminarO facilitanço é f...eu sei bem do que falo, já fiz das minhas à conta disso...
ResponderEliminarTeria ficado como tu, em pânico. Mas depois Nova Iorque no Natal resolveria todos os problemas. :)
ResponderEliminarFoi, de facto o que aconteceu, Vespinha :-)
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