sexta-feira, 16 de maio de 2014

Olá, eu sou o Zezé.

 
 
Esta manhã, ao abrir o facebook, dou com um pedido de amizade de um tal de José Teixeira. Olhei para o quadradinho, ainda sem o aumentar, e vejo um rapaz em cima de uma mota. O nome não me dizia nada e vou direitinha ao botão "eliminar". Eis que reparo que tinha também uma mensagem. Abro, e vejo que começa com um: "Olá, eu sou o Zezé."
 
O meu coração acelera, sinto um ligeiro pico de ansiedade, continuo a ler a mensagem e sim, confirma-se. É mesmo o Zezé. A minha primeira paixão da escola primária. Aquela que a minha timidez da altura não me permitia sequer dizer o seu nome, fosse qual fosse o contexto, não fosse isso indiciar o que sentia por ele.
 
O Zezé era um menino loiro, de cabelo liso, com sardas, que tinha sempre os olhos com uma coisa qualquer que lhe dava um ar meio remelento, mas não o suficiente para impedir que me apaixonasse por ele. Era popular, tinha as meninas sempre de volta dele e dava umas gargalhadas sonoras de que ainda hoje me lembro. Costumava abraçar-me com força e eu fingia não gostar, enquanto tentava libertar-me, sem nunca fazer força suficiente para o conseguir.
 
Eu preferia assim. Manter aquela paixão escondida. Afinal, a professora era minha prima e, com jeitinho, ainda ia contar à minha mãe que depois dizia à minha irmã que certamente iria logo contar às minhas primas e depois era uma vergonha. Eu preferia assim, sem ninguém saber. E partilhava com ele a carteira da escola, enquanto desenhava corações com os nossos nomes lá dentro, atravessados por uma seta, e contava os minutos para chegar a hora do recreio.
 
Foi assim durante os 4 anos da escola primária. É verdade que, a certa altura, também andei meia encantada por um Vicente que veio de outra cidade (sempre me deslumbraram as coisas vindas "de fora"). Mas o Zezé, era o Zezé.  Nunca lhe disse o que sentia, embora achasse que ele sabia. Nunca demos um beijinho, embora ambos sonhássemos com esse dia.
 
E agora entra-me por aqui o Zezé. O Zezé em forma de homem. O Zezé em cima de uma mota. O Zezé com um filho nas bancadas de um estádio. O Zezé no café com os amigos. Um Zezé de quem apenas reconheço os olhos, que já não são mais remelentos, e que já nem sequer é loiro. E ele pergunta se nos podemos ver. E eu respondo que não dá. Que estamos longe.
 
Não é este o meu Zezé. Eu queria de volta o Zezé loiro, de cabelo liso, com sardas e de olhos remelentos que me abraçava enquanto eu fingia não gostar.

3 comentários:

  1. há por aí tanto Zezé!

    Os olhos reconhecem-se sempre não é?

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  2. É bom reencontrar amizades antigas mesmo quando a gente diz (porque eu também o digo lol) ahhh gostava muito mais da pessoa em questão antigamente

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  3. Blast from the past? No, thanks! As pessoas perdidas no tempo devem ficar... perdidas no tempo!

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Deita cá para fora!