terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Das ausências.


 
Só porque, às vezes, esquecemos que Natal também é isto.
 
"Morrer é quando há um espaço a mais na mesa afastando as cadeiras para disfarçar, percebe-se o desconforto da ausência porque o quadro mais à esquerda e o aparador mais longe, sobretudo o quadro mais à esquerda e o buraco do primeiro prego, em que a moldura não se fixou, à vista, fala-se de maneira diferente esperando uma voz que não chega, come-se de maneira diferente, deixando uma porção na travessa de que ninguém se serve, os cotovelos vizinhos deixam de impedir os nossos e faz-nos falta que impeçam os nossos."
António Lobo Antunes, in 'Não é Meia Noite Quem Quer'
 
Podem passar mil natais que vou lembrar-me sempre das tuas mãos enrugadas quando me davas o envelope amarrotado com as notas que pedias à tia para contar e que aposto que contavas de novo quando estavas sozinho, só para ter a certeza que não se enganou... Ou quando sorrias para mim com ar maroto e levantavas as sobrancelhas, enquanto comias a sobremesa. Sempre gostaste de doces.

Mesmo sabendo que eras um homem de poucas palavras, vou ter saudades do teu silêncio que, ainda assim, me trazia tanto conforto.

Este Natal vai haver de novo um espaço mais à mesa. E por mais que cheguem crianças, por mais que a família cresça, esse pequeno vazio, onde cabe apenas uma simples cadeira, no meu coração vai ter sempre o tamanho de um mundo. Um imenso mundo.

5 comentários:

  1. Este texto está lindo,quase que chorei. Infelizmente tidos nós passamos por isso de uma maneira ou de outra. Mas há que continuar. Mas a saudade aah essa aperta :(
    Beijinhos e excelente texto!

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  2. Saudade.
    É tão má como enorme.
    Saudade do meu, também.
    Da sua pele enrugada, dos seus olhos azuis espertos.
    Da sua inteligência, da... da... da...
    Saudade passou a ser eterna.

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Deita cá para fora!