Ontem morreu o avô da minha colega de trabalho que é também minha amiga. Hoje é certamente um dos dias mais infelizes da vida dela, da mesma maneira que há pouco mais de um ano foi também um dos meus, pela mesma razão.
Ontem descobri também, por um acaso, um texto lindo sobre aquilo que descreve - a meu ver numa perfeição desconcertante - o que é a perda e como deve ser sofrida. Alguma vez na vida, todos esbarramos com ela. É inevitável. Seja por uma morte, uma separação ou um divórcio, mas à dor da perda, talvez das mais difíceis de suportar, é impossível fugir.
É também por isso que quero partilhar este texto brilhante. Porque não há consulta de terapia que nos explique melhor o que está a acontecer dentro de nós e como é que isto se combate. Como é que se faz para não deixarmos que nos derrube. Porque não há um comprimido que ajude a passar. Porque os amigos consolam-nos mas não curam. Porque não há copos ou jantares que nos façam esquecer a ausência por um minuto que seja. Porque dói muito quando nos deitamos a querer esquecer e acordamos a não querer lembrar. Dias. Semanas a fio. Porque não conseguimos parar a catadupa de perguntas que colocamos em busca de respostas que nos sosseguem, que nos expliquem o porquê de aquilo estar a acontecer.
E sobretudo porque é preciso aceitar que a perda (seja ela de que natureza for) não se supera em dias. Não passa em semanas, nem em meses. Às vezes, se calhar na maioria delas, são precisos anos. E é essencial sabermos que é assim mesmo que as coisas se passam. Que tudo isto é normal. É a ordem natural das coisas. Saber que demora, que dói, que corrói, que leva tempo, demasiado tempo, que vai deixar marcas, mas que um dia, vamos ser capazes de olhar para trás e perceber que ultrapassámos, que conseguimos finalmente respirar de alívio e ter a nossa vida antiga de volta.
Machucada, dorida, mas de volta. Que voltamos a ter dias em que não precisamos fazer esforços hercúleos para não pensar. Para não lembrar situações, conversas, datas, mensagens, de forma obsessiva à procura de uma resposta que nunca chega. Que aquela dor enfraqueceu, perdeu tamanho, apesar de ficar ali, sentada, quieta, como uma velhinha que fica a viver em regime de aluguer vitalício na nossa memória.
Na verdade, há muito pouca coisa que possamos fazer. É um combate duro, violento, arrasador, mas que tem de ser feito por nós e sozinhos, com consciência de que o tempo é o nosso único aliado. É preciso esperar. É preciso saber esperar. E para quem sofre, esperar, só esperar, será sempre um caminho lento, solitário e, sobretudo, demasiado penoso.
"Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar".
Miguel Esteves Cardoso
Uma frase que diz tudo. É que tem de ser mesmo assim.
ResponderEliminarÉ ter esperança que se canse rápido :-)
EliminarNão se esquece passamos é a lembrar de outro modo. E quando gostamos não queremos esquecer só queremos que a lembrança doa um bocadinho menos.
ResponderEliminarMgp, às vezes, é precisamente porque gostamos que queremos esquecer.
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