sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O dia em que perdi a cabeça


Se me perguntassem, há três meses atrás, se é mesmo necessário comprar um muda fraldas, não hesitaria em dizer que não. "A fralda pode mudar-se na cama ou no sofá e não é preciso meter mais um trambolho no quarto, que só serve para ocupar espaço". Era este o meu argumento.
 
Sucede que Baby Caco tem começado a fazer circos, cada vez que o tento deitar no dito. Começou devagarinho no fraldário dos shoppings, onde nos vimos forçados a mudar-lhe a fralda de pé, enquanto os outros pais nos olham como se fossemos bichos raros e nós fazemos aquele sorriso amarelo, na esperança que acreditem que, além de ser mais higiénico, dá muito mais jeito e eles é que têm andado a dormir.
 
Em casa, lá vou inventando umas brincadeiras para o distrair e ele acaba por se deitar. Mas ontem a coisa foi diferente. As artimanhas que uso habitualmente não estavam a funcionar. Cada vez que o tentava deitar, esticava as pernas como uma barra de ferro e gesticulava os braços ferozmente. Insisti com tudo o que tinha à mão para o entreter e... nada. Continuava a gritar, de braços no ar e pernas firmes, como se estivesse a debater-se com o Demo.
 
Era este o momento em que devia ter desistido, deixá-lo com a prenda no pandeiro e voltar a tentar mais tarde. Mas não. Pareceu-me óbvio que uma criatura de 12 meses não poderia levar a melhor e que eu conseguiria controlar a situação. Com algum esforço, consegui despir-lhe as calças do babygrow (sempre com ele de pé no muda fraldas, a estrebuchar como se não houvesse amanhã) e fui tentando tirar-lhe a fralda, procurando evitar acidentes de maior.

Foi só nesta altura, com ele despido, de rabo ao léu, com aspecto de ter caído num frasco de Nutella - sendo que não é bem disto que estamos a falar - que percebi que aquilo não ia acabar bem. 
 
O que se seguiu foi uma autêntica tourada, comigo a tentar reunir forças para não o deixar cair, evitando que, a qualquer momento, me esfregasse o rabo na tromba. Até que cheguei a um ponto irreversível. Já não era possível voltar atrás, fechar a fralda e fazer de conta que aquilo não tinha acontecido. Tinha mesmo de conseguir limpá-lo, sob pena daquele quarto se transformar numa pocilga e de eu, no desespero, atirar a criatura pela janela fora (felizmente vivo num rés-do-chão).
 
Desnorteada, corri com ele nos braços para a minha cama e deitei-o, na esperança que sossegasse numa superfície mais fofa. Enganei-me. Voltou-se repentinamente aos gritos e no preciso momento em que o traseiro estava prestes a esparramar-se pelo edredon a fora, agarrei-o contra mim, sendo que o resultado não foi bonito de se ver.

Naquele estado, pouco mais havia a fazer. Ele de goelas escancaradas, a espernear, o quarto com um cheiro insuportável e eu, imunda e roxa de raiva. Agarro nos Dodot´s, corro para o lavatório, enfio-o lá dentro e começo a tentar limpá-lo num cenário absolutamente dantesco.
 
Um verdadeiro forrobodó: Dodot´s pelo ar, frascos a tombar, à medida que eram violentamente esbofeteados por aquelas mãozinhas em fúria, e eu, mergulhada em toalhetes até ao pescoço, com a roupa cheia de merda, a tentar segurá-lo,  enquanto atirava para lugar incerto (vulgo, o chão) a parafernália de objectos que por ali havia, na esperança que ele não vazasse um olho - o dele ou o meu - com o canto da pasta de dentes ou com o pente de dentes largos.
 
De repente, com ele pendurado num braço e com o outro a tentar gerir a situação o melhor que podia, faz-se silêncio. Ele finalmente acalma. Para mim, que naquela posição nem conseguia ver-lhe o rosto, foi como se tivesse acabado de me sair o Euromilhões. Aproveitei aqueles segundos e, num ápice, toca a esfregar-lhe o rabo com os Dodot´s que me apareceram à frente (confesso que alguns sujos também marcharam).

Assim que termino a tarefa, viro-o para mim e percebo que aquele silêncio estava directamente relacionado com o bocado de sabonete Dettol que tinha acabado de engolir. Tento tirar-lho da boca, sem sucesso. Segundos depois, estava novamente aos berros. Não tinha apreciado a iguaria.

Nesta altura, já sem cocó e ainda de pé no lavatório, enfio-lhe - sabe Deus como - uma nova fralda e finalmente pouso-o no chão, enquanto tento repor todos os objectos espalhados pelo wc. Nestes 2 ou 3 minutos, fez-se novamente silêncio. A medo, olho para trás. Vejo-o mergulhado num etéreo manto branco.

Baby Caco acabara de descobrir a magia do papel higiénico.  

7 comentários:

  1. Miss Caco, a situação descrita é, deveras hilariante, admito que já dei umas belas gargalhadas.... Posso concluir que mãe sofre :)

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  2. Querida Aldina, espero que, assim que consiga algum distanciamento deste famigerado dia, também venha a rir-me disto...

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  3. oh meu deus!! :) Baby Caco no seu melhor! e Mãe Caco sofre!! :)

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  4. Oh meu Deus... Baby Caco no seu melhor!! :)

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  5. Ahhh... as alegrias da maternidade (not). Sempre tive muda fraldas, mas também nunca fizeram muitas birras para mudar a fralda, mas muitas vezes tive que enfiar o miúdo na banheira porque era cagadela até ao meio das costas...

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  6. Ha Ha Ha..credo! Já me ri bem. O meu de vez em quando também fica possuído, mas ainda não me aconteceu nada parecido.

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  7. Ahahah!!!
    Sei, sei muito bem o que isso é!
    Aliás esse espetaculo também já ocorreu lá em casa (algumas vezes) com outros intervenientes, eu e Pequeno A.
    Não é bonito de se ver... Não é!

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Deita cá para fora!