terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Passei mais de um ano a dormir com o Morfeu. E o meu marido sabe.


Bem sei que não se nota muito, mas quem me conhece sabe que Miss Caco passou, nos últimos dois anos, pelo pior período da sua existência e, por causa disso, pela primeira vez na vida, tive problemas de sono. O registo era mais ou menos este: vá que até conseguia adormecer, mas lá para as duas ou três da manhã acordava e aquilo era ver as horas a correr pelo ecrã do telemóvel a fora, até o dia raiar.

A coisa lá se ia levando com um ansiolítico fraquinho que a médica me tinha receitado e que, no meu caso, até me dava alguma sonolência, mas eis que chega um dia em que o dito tinha acabado e eu dei comigo, às dez da noite, sem nada para tomar e já a pensar que aquilo ia ser uma rambóia bonita, de pestana aberta, a macacar tudo quanto é desgraça pela madrugada a fora.

Era domingo à noite, estava a passar o fim de semana em casa de uma amiga com o meu filho, e perguntei-lhe se tinha alguma coisa que me ajudasse a dormir, mas fui avisando que não queria aqueles "Vald%$#ts da treta", cheios de carneirinhos na embalagem e com um casal lindo a ferrar um valente galho numas almofadas fofinhas, com aspecto de quem está a dormir e a ser massajado nos pés ao mesmo tempo, mas que, vai-se a ver, tomar aquilo ou duas embalagens de Smarties é praticamente a mesma coisa. 

Ela disse-me que tinha um comprimido óptimo, para o ir buscar a uma cesta amarela, em cima do armário do corredor. Ao que respondo: "É preciso receita médica ou é de venda livre ? Sim, que se isto é de venda livre, prefiro mandar abaixo meia garrafa de ginginha, que, assim com´ássim, sei com o que conto". Respondeu-me que era de venda livre. Torci o nariz e disse que não tomava nada daquelas tretas. 

Mas depois pensei que a ginginha se calhar não era boa ideia e entre tomar aquilo ou não tomar nada, decidi ir ao cesto amarelo e procurar a embalagem do dito, sem lhe dizer nada. Eis que dou com duas caixas: uma azul e outra bordeaux. O nome era o mesmo e como eu não queria dar parte de fraca, calei-me como um rato, tirei um comprimido da azul e fui à minha vida.

Sei que deve ter passado uma meia hora quando começo a sentir o maxilar inferior a ficar meio dormente, uma certa e determinada dificuldade em articular palavras, até que me começa a tombar uma sonolência pela espinha dorsal abaixo, que eu achei que não valia a pena pensar no que ia fazer para o jantar do dia seguinte, porque o meu próximo passo era esbardalhar os queixos no meio da tijoleira da cozinha e depois disso, um Cerelac devia ser suficiente.

A custo, fui até à entrada da sala, onde a minha amiga estava deitada no sofá, e só tive tempo de dizer: "Vai-me deitar o miúdo que eu tenho de csx&%ccczzzww...". Não me lembro de ter terminado a frase. Fui pelo corredor a fora aos ziguezagues, com o intuito de ir lavar os dentes, mas a pancada era de tal ordem que passei uma majestosa tanja à porta da casa de banho, avancei para o quarto, sem passar pela casa da partida, e só parei quando caí na cama, com metade do meu cérebro a insultar a minha amiga e a outra metade a pensar que ia falecer. A boa notícia é que, ao menos, era sem dor.

Demorei uns nanosegundos a perceber que Morfeu me tinha enfiado com um pau pelo lombo abaixo e adormeci como um calhau  meteorito, de tal forma que quando acordei, com a almofada toda babada, pensei que já era Natal e estávamos em 2023. A sonolência permanecia. Arranjei-me, vesti o miúdo, entreguei-o na escola - com uma meia de cada cor e com o escorredor da cozinha enfiado na cabeça (não tive culpa, era da mesma cor que o gorro) -  fui trabalhar, e só lá para o meio-dia é que já me sentia capaz de dizer a tabuada dos quatro.

12h01 - Liguei à minha amiga. Insultei- a ela e à família até à eternidade. Contratei duas ciganas e mandei rogar duas pragas daquelas que duram três gerações. Não, não contratei nada. Elas é que estavam à porta do meu escritório e comprei-lhes uns Ray-Ban, mas depois as letras saíram e arrependi-me. 

Desfeito o engano, ela explicou-me que eu tinha tomado um comprimido da caixa mais forte (a azul), quando, na verdade, devia ter tomado da caixa mais fraca, (a bordeaux). Insultei-a mais um bocado, mas como não tinha receita médica para pedir o ansiolítico a que estava habituada, naquela noite decidi dar o benefício da dúvida e tomei o comprimido da caixa bordeaux.

Meus amigos, aquilo foi remédio santo. Posso dizer-vos que a minha relação com esta pílula celestial que dá pelo nome de Dormidina (CAIXA BORDEAUX), durou cerca de um ano. Passei a adormecer de forma incrivelmente natural e a acordar lindamente no dia seguinte, como se nunca tivesse tomado nada na vida. 

Durante este período, não houve dia nenhum que não pensasse: "Isto é muito bonito, sim senhora, não preciso de receita médica nem o carago, mas no dia em que eu decidir largar esta treta, estou mais agarrada a isto do que o Bruno de Carvalho à Presidência do Sporting".

Aquilo lá andou, até que há cerca de quinze dias, esperei por um fim de semana, não tomei, e fiquei à cuca, só assim a ver no que dava. E vai que deu. E vai que até agora tenho dormido certinho. E já lá vão quinze dias e, ao dia de hoje, já posso dizer:

"Olá, eu sou Miss Caco, tenho 45 anos, peso 53 kg, sou linda como só Deus sabe, e estou há 16 dias sem precisar tomar Dormidina".

Portanto, se alguém anda por aqui com os sonos trocados, a minha experiência foi esta. Avancem sem medo com a caixa bordeaux. Já em relação à azul, avancem na mesma. 

Nunca se sabe o dia em que a sogra decide ir dormir lá a casa.

Mentirinha. Amo a minha sogra de coração. E ela sabe. 

2 comentários:

  1. Desde que me lembro que tenho insonias, como tal ja experimentei muita coisa. Medicamentos com receita medica, sem receita medica, chas, ja tentei fazer meditacao para relaxar, contei carneirinhos e peixinhos e sei la mais o que. Ha umas coisas que funcionam melhor que outras mas nada de espectacular. Aquilo que funciona que e' uma maravilha e sinutab. Supostamente aquilo nem devia dar sonolencia, mas eu tomo e passado pouco tempo e' tiro e queda. O problema e' que aquilo e' para a sinusite, nao me apetece a tomar so porque sim. Ha uns tempos falaram-me de uma coisinha chamada CBD (o composto nao alucinogenico da cannabis). Nunca experimentei mas ja estive mais longe…
    Nini

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    1. Nunca ouvi falar nisso do CBD, mas se avançares, anda cá contar! Cheira-me que isso deve dar uns sonhos p´ra lá de espectaculares! :-)

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Deita cá para fora!