quinta-feira, 5 de março de 2015

Ossos do ofício.


Ontem fui a uma reunião ao Porto com um cliente. Fomos e viemos no mesmo dia, de alfa pendular. Miss Caco adora o alfa, mas já há algum tempo que não andava. Da última vez, há cerca de um ano, o raio do sistema de wi-fi ainda era uma valente bosta. Entretanto, a CP deve ter recebido reclamações suficientes para ter tratado do assunto, portanto, do ponto de vista de conexão com o mundo virtual a coisa correu muito bem. Já do outro ponto de vista, aquele do mundo real, digamos que foi uma tortura pidesca.

Não bastava ter de levar com um cliente durante uma viagem que totaliza cinco horas (sim, digam-me que tanto há para conversar com um cliente durante CINCO horas, que é o mesmo que dizer 300 minutos??!??), chegámos precisamente na hora de almoço para reunir com um alto quadro que com uma p$%a de uma latosa nos diz nas barbas que, por ele, reuníamos de imediato e nem precisávamos de almoçar.
 
Coisa que se veio a confirmar e, portanto, Miss Caco passou a reunião com o estômago a dar horas e atenta ao ritmo cardíaco, à espera de lhe dar o fanico a qualquer momento e de esbardalhar os queixos em cima da estatueta de mármore que estava em cima da mesa. 

Ainda sobre a história de passar cinco horas enfiada num comboio com um cliente, isto ainda se torna mais penoso se pensarmos que convém evitar conversas de foro pessoal, tricas e assuntos que revelem pouco da nossa capacidade galhofeira porque trabalho é trabalho e não podemos dar ar de que gostamos mesmo é de uma boa rambóia. Portanto, lá caímos na inevitável conversa das dívidas do outro palhaço à segurança social, do que fazem os assessores do Cavaco, do papel do Granadeiro no financiamento à Rioforte e do raio que o parta. Um autêntico telejornal, mas menos interessante porque o Rodrigo Guedes de Carvalho não estava. 
 
Posto isto, na viagem de ida ainda se arranjou assunto, já na de regresso a coisa foi dolorosa. E foi dolorosa porquê? Porque o raio da TV só passava imagens de um programa de culinária do Porto Canal (e eu a salivar, com uma mísera sandes no bucho, engolida a correr no bar da estação de Campanhã) e o homem decide achar que eu estaria doida para ver fotos da sua casa de férias e aquela bosta do computador punha-se a moer os downloads das imagens (coisa que se tornava tão lenta que ficávamos ali os dois feitos totós a olhar para o raio dos envelopes que teimavam em bailar no ecrã naquele vaivém repetitivo) que, associado aos raios de sol mornos a entrar pela janela e ao barulho ritmado do comboio, o resultado era semelhante a ter o Morfeu a fazer-me um cafuné enquanto me implorava de joelhos para cair nos braços dele.
 
De maneiras que, por umas três ou quatro vezes, as minhas pálpebras tombaram e cheguei mesmo a adormecer. Felizmente acordava sempre naquele preciso nanosegundo em que a cabeça começava a deslizar em direcção ao ombro dele, o que normalmente coincidia com o momento em que me perguntava o que é que eu estava a achar dos acabamentos ou da localização do empreendimento, altura em que eu ia alternando entre uma destas expressões, já que qualquer uma encaixava na perfeição: "Que enquadramento fabuloso!", "Que design espectacular!" ou " Que excelente negócio!".
 
Perante isto, ainda bem que já acabei este post porque o meu director acabou de chegar e tenho de ir lá dentro pedir-lhe um aumento. Depois conto como correu.

9 comentários:

  1. brilhante. já agora boa sorte com o aumento. também tentei mas o único aumento que tive foi de trabalho.

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  2. Sei tão, tão bem o que isso é. É de chegar a casa com a sensação de uma tareia em cima dos costados.

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  3. Olha, eu também vim ontem do Porto, vieste a que horas? na volta partilhámos o Alfa :-)
    A minha viagem foi sozinha e boa, muito boa.
    Espero que te safes com o aumento, mereces!

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  4. Devo dizer que as viagens lisboa-porto (ida e volta) pela ryanair estão a 15€ e são 50min de viagem. Há uns dias até apanhei uma campanha e comprei passagens a 3€ para a família toda. Há voos de manha e ao final do dia e a partir de Abril também os há à hora de almoço.

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Deita cá para fora!