sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Os homens também sofrem.

 
Ando aqui desconfiada que, mais dia menos dia, vocês vêm cá pôr-se ao corrente da palermice diária e encontram o post do dia anterior já a cheirar a mofo, e o pior é que nem sequer dá para aquecer, que isto é como o salmão... tem de se comer logo, senão seca.
 
Basicamente ando há uns bons dois ou três meses a passar por uma situação de merda todas as manhãs. A coisa deu-se assim: à custa de uma greve de transportes, Miss Caco entabulou conversa com um casal enquanto esperava pelo autocarro que acabou por não chegar, razão pela qual até lhes ofereci boleia. Aquelas conversas de circunstância em que não dá para ficar a saber se aquilo é gente de alinhar em swings, mas suficientemente próxima para justificar um cumprimento da próxima vez que nos virmos.
 
Para que percebam melhor, este é daquele género de casais que está junto desde o ciclo preparatório, mas que continuam agarrados e aos amassos como se ainda andassem a descobrir-se atrás do pavilhão gimnodesportivo da escola.
 
Vai daí, todas as manhãs, quando chego à paragem, não há dia nenhum que já lá não estejam mais pendurados um no outro do que os pombos em período de acasalamento (foi o que me veio à cabeça, não precisam ir ao google confirmar, que eu nem sei se os pombos se agarram). E eu, educadamente, lá dou os bons dias da praxe. O rapaz, que é uma simpatia, cumprimenta sempre. Já a rapariga, manda-me um olhar que, se isto fosse uma BD, tinha um balão em cima com os dizeres: "Se dependesse de mim, chamava o meu primo da Covilhã que sempre mostrou apetência para a Jihad e perdias o pio em três tempos".
 
E eu lá sigo encolhida para o fim da fila, sem pousar o olhar por um nano segundo que seja no homem que até parece ser um amor de pessoa. No dia seguinte a história repete-se. Ok, não se repetirá exactamente da mesma maneira. Talvez ela troque a G3 por uma rebarbadora e o primo pelo homem que matou a mulher à facada em Valongo e ainda anda a monte.
 
No meio disto, lá chega um dia em que finjo estar a escrever um post (sim, escrevo a maior parte deles no autocarro) só para não ter de passar por aquela situação miserável. Não sei se fico com mais pena de mim, se dele, pois imagino sempre a quantidade de vezes que deve ouvir conselhos ao estilo: "Estás muito simpático hoje. Ontem à noite não te vi assim tão solícito quando te pedi para arrumares a loiça na máquina", ou "Pensas que não te vi a arrastar as pernas para ela passar à frente e enquanto esfrega o passe lá na maquineta, poderes ficar uns centímetros abaixo, só para apreciares melhor, seu porco?", ou ainda "Escusas de pôr os óculos de sol que sei bem para onde estás a olhar e além disso está a chover  a cântaros e estamos em Novembro". E eu fico ali a sofrer por ele. É que se eu ainda tivesse as mamas da Vergara, as ancas da Beyoncé ou o rabo da Kardashian, ainda vá...   
 
Ontem chovia. Meti o guarda-chuva à frente. Anteontem escrevi um sms, na semana passada fingi que estava com dificuldade em meter os auriculares. Hoje já não me safei.
 
Agora vou ficar atenta, a ver como me corre a vida. Se isto começar a entortar, vou ficar a perceber a razão de ela, esta manhã, ter guardado aquele panfleto do professor Bambo que estava colado ao poste da luz, mesmo ao lado do mupi da paragem. 

4 comentários:

Deita cá para fora!