quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A primeira vez


Pessoas que estão para aí a pensar que vou contar aquilo que vos está a passar pela cabeça, podem meter a viola no saco e ir pregar noutra freguesia porque o que vou revelar é bem menos entusiasmante. Baby Caco teve febre, ontem, pela primeira vez. Aos dez meses. Sim, eu sei que não me posso queixar.
 
Estávamos a brincar no sofá, como fazemos todas as noites e, de repente, pareceu-me que tinha a cara mais quente do que o habitual. Começou a rabujar, a meter as mãos na boca, a cerrar os dentes na chupeta e a ficar irrequieto. Tentei acalmá-lo, mas não resultou. E ele sempre a morder tudo o que apanhava à frente. Dei-lhe a girafa Sophie, o guizo roedor, o urso de borracha, mas nada. Ele quer mesmo é o comando da tv. Rói como se não houvesse amanhã. De repente, desistiu.
 
Enroscou-se no meu colo, sem pestanejar, e assim ficou de olhos abertos. Continuava quente. "Ele nunca faz isto". Fui buscar a chupeta para tirar a febre. Aquilo tem de ficar ali uns tempos até apitar para dar a temperatura correcta. Mas Baby Caco não queria e chuta-a pelos ares, precisamente no momento em que tinha acabado de passar a fronteira dos 37,5º C. E toca a meter aquilo a zero e voltar a enfiar-lha, sempre a alternar entre a cantiga da Popota e a do Ruca, para ver se o distraía, até aquilo apitar de vez. Não resultou. Meto Aero-Om. Continua sem resultar. O melhor que consegui foi uma bonita mancha rosada a colorir a alcatifa.
 
À quinta tentativa, deu certo. 38,10º C. Levo-o para o quarto com ele em pranto. (Aos gritos para Marido Caco): "Onde é que está o raio do papel onde anotei o que a médica disse para fazer em caso de febre?". Vasculhei tudo, virei os cestos ao contrário, abri agendas, vi na caixa dos medicamentos e nada..."Sim, sei que é Ben-u-Ron, mas será mesmo de 8h em 8 horas? E se isto amanhã continua? Quantos posso dar? Ligo à Saúde 24?" E ele aos berros. Liguei a uma amiga. "Calma, sim, é Ben-u- Ron". Coloco o supositório. Os berros continuam. Não há música que resulte, nem chocalho, nem imans do frigorífico, nem luzinhas de Natal.

É oficial. Ele a chorar e eu ali aflitinha a pensar "Ai, e se a febre sobe?","Ai, que se calhar é melhor metê-lo no banho","Ai, que é melhor tirar uma peça de roupa para arrefecer","Ai, coitadinho..." e a tentar recordar tudo o que a médica tinha dito para fazer e a ter a certeza de que só me estava a lembrar de metade.
 
Adormeceu. Uma hora depois acordou a chorar. Acalmei-o. Na hora seguinte voltou a acordar. Mais uma vez, na hora a seguir. E por aí fora, de hora em hora, até às 6h30, altura em que tive de me levantar porque tinha um raio de um evento que me fez sair de casa com as galinhas e me vai obrigar a chegar com as corujas. "Raios, que estas coisas só acontecem quando não devem".
 
Marido Caco ficou de vigia. Baby Caco acordou sem febre e está tudo bem. Lembrei-me agora que o papel com os conselhos da médica está onde deveria estar: na caderneta de saúde de Baby Caco. Quem me manda ser histérica?

2 comentários:

Deita cá para fora!